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segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

O Caçador e o Crocodilo

O Caçador e o  Crocodilo  é um conto guineense do livro "O crioulo da Guiné-Bissau, Filosofia e Sabedoria", de Benjamim Pinto Bull.

O Caçador e o Crocodilo (Montiadur ku lagartu)

Um caçador foi à caça; deparou-se com um crocodilo, que também estava à espera de uma vítima. Quis o caçador matá-lo, porém o crocodilo suplicou-lhe para não tirar a vida, dizendo:- Vim cá simplesmente à procura de qualquer coisa para matar a fome. Não encontro o caminho do regresso. Leva-me, por favor, até à margem do rio. Respondeu-lhe o caçador:- Eu bem queria levar-te, porém receio que me comas - Juro que não te como. Propôs-lhe então o caçador :- A não ser que te amarre a boca. Atalhou o outro:- Amarra-me a boca. O caçador amarrou-lhe a boca com uma corda, em seguida, ligou-lhe todo o corpo a um pau, e levou-o às costas até à margem do rio. Chegados ao destino, o caçador quis pô-lo no chão; o crocodilo pediu-lhe: - Leva-me para mais longe. O caçador entrou na água até aos joelhos. Suplicou-lhe o crocodilo de novo: - Leva-me ainda um pouco mais longe. O caçador aceitou. Disse-lhe então o crocodilo: - Desamarra-me a boca, caso contrário não poderei comer. Assim que o caçador lhe desamarrou a boca, o crocodilo disse-lhe: - Prestaste-me, é certo, um serviço, mas agora tenho que te comer, única e exclusivamente para respeitar a nossa tradição; os meus pais comiam todos os homens quantos encontravam pelo caminho. Foi a vez do caçador de pedir com insistência para não ser comido. O crocodilo rejeitou categoricamente tal pedido. O caçador fez-lhe então a seguinte proposta: - Estou inteiramente de acordo que me comas, mas proponho que previamente peçamos parecer de três transeuntes. Um cavalo velho foi o primeiro a passar por lá. Cada um lhe contou a aventura a seu modo. Escutou com muita atenção as duas versões, depois dirigiu-se para o crocodilo: - Come-o como é vosso hábito. O homem é muito ingrato; quando eu era novo, com todo o vigor, cuidava bem de mim. Agora faz de conta que não me conhece. Apareceu depois uma velha; ela ouviu as duas versões da mesma aventura, e disse logo ao crocodilo: - Come-o; os homens são todos ingratos. Quando jovem e bela, o meu marido jurou-me que só haveria de amar a mim. Agora casou com raparigas novas, e nem sequer olha para mim. Come-o, segundo as vossas tradições. O caçador estava desesperado, não vislumbrando nenhuma solução favorável à sua situação. Chegou a lebre; cada um lhe expôs a aventura a seu modo. A lebre disse: - Estais muito longe, disse-lhes a lebre; já estou velha e oiço muito mal. Vinde, pois, aqui à margem, para que eu vos oiça melhor. Ambos saíram da água e chegaram perto da lebre a quem contaram de novo tudo. Disse-lhes a lebre: - Custa-me acreditar. Como é que este homenzinho pôde carregar com um gigante como tu? Para dar o meu parecer é preciso eu ver com os meus olhos quanto estais a contar-me. Portanto, regressai à floresta; que o caçador te amarre de novo e traga até aqui. O crocodilo e o caçador aceitaram. Quando chegaram à floresta, a lebre disse ao caçador para amarrar melhor o crocodilo e perguntou-lhe: - A vossa casta não come crocodilo? O caçador respondeu: - Claro que comemos. A lebre disse-lhe: - Salvaste-lhe a vida, e ele quis comer-te; agora, leva-o para casa e comei-o em família; tu a tua mulher e os teus filhos.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Palácio da República em reconstrução

    O Palácio da República construído em 1946 foi destruído no final do conflito político-militar que aconteceu em 7 de Junho de 1998 em território guineense. A reconstrução significará um novo passo para o desenvolvimento do país e o produto final da obra fará com que a população da Guiné-Bissau esqueça as más lembranças e tragédias do conflito responsável pela destruição do Palácio da República. 
    A China irá cooperar com Bissau ajudando com as obras do imóvel. O projeto deverá ser entregue às autoridades do país no prazo máximo de um ano e trinta dias. Hoje, dia 15 de fevereiro de 2013, o presidente da República, Malam Bacai Sanhá fez uma declaração a respeito das obras:  '' A reabilitação deste palácio fará certamente os guineenses em geral esquecerem as sequelas da guerra de 7 de Junho. E o símbolo do poder que ficou inoperante durante 12 anos.” 

sábado, 9 de fevereiro de 2013


 Carnaval na Guiné

 

 Em Guiné Bissau o carnaval costuma ser celebrado no dia 4 de Fevereiro embora seja uma tradição originalmente européia. Nesse país, a diversidade cultural é muito grande, apesar de seu tamanho, ele possui mais de 23 etnias e nove idiomas sendo que o idioma considerado oficialmente é o português. 

Na capital, Bissau onde há maior concentração da população para a festa, os adultos e crianças comemoram vestindo mascaras de suas tribos e fazendo danças tradicionais, as quais são feitas e assistidas no Palácio Presidencial. O grupo que apresenta melhor a tribo que vive ganha o premio.



quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Cinema


A cinematografia na guiné Bissau começou alguns anos depois de sua independência, pelo Instituto Nacional de Cinema (INC). Os principais produtores foram Sana Na N’Hada e Flora Gomes.
No início, as obras eram curtas metragens e, as primeiras pioneiras foram “O regresso de Cabral” (1976) e “Anos no oça luta” (1976). Mais tarde a partir de década de 80 surgiram a longas metragens, com uma grande obra de Flora Gomes “Morto Nega”.
As fichas técnicas dos filmes dos cineastas citados a cima:


MORTO NEGA (1988)

Diminga, mulher guineense de 30 anos de idade, decide ir ter com o marido, Saco, na frente da luta de libertação. Caminhando pelas matas com os combatentes, ela descobre o país em ruínas. Dias de tristeza: a morte está inscrita por toda a paisagem. Dias de esperança, também: em breve a guerra acabará. No acampamento, Diminga e Saco mal têm tempo de se reencontrarem. Tudo se precipita à sua volta. 1977, a paz não é o fim da guerra. Na tabanca de Diminga há muita alegria e ri-se muito. Há também alguns gritos de raiva, algumas lágrimas. A seca assolou o país, como uma nova fatalidade. É preciso continuar a lutar para que a terra dê os seus frutos. Hoje ela já não dá mais nada. A luz é dura. Tudo parece paralizado, imóvel. Ao lado de Diminga, Saco está doente. Diminga solicita então a ajuda dos deuses ancestrais...


Realizador : Flora Gomes
Cenário : Manuel Rambout BARCELOS, Flora GOMES
Imagem : Dominique GENTIL
Som : Pierre DONNADIEU
Intérpretes : Tunu Eugénio ALMADA, Mamadu Uri BALDE, Bia GOMES
Décors : Fernando JÚLIO, Manuel JÚLIO


OLHOS AZUIS DE YONTA (1991)

O filme traça a trajetória da jovem e bela Yonta, secretamente apaixonada por Vicente, um homem mais velho, amigo dos seus pais e antigo herói da luta pela independência do país. Ele nem sequer percebe a paixão que inspirou. Enquanto isso, Zé, um jovem do porto, manda cartas apaixonadas e anônimas para Yonta. A nossa história se passa em Bissau, uma cidade ao mesmo tempo jovem e velha, em movimento permanente. Um espaço onde a atmosfera oscila entre a esperança e o desencorajamento.
Realização: Flora Gomes Cenário: Flora Gomes, Ina Cesaire, David Lang Fotografia: Dominique Gentil Música: Adriano G. Ferreira - Atchuchi Intérpretes : Maysa Marta, Pedro Dias, Antonio Simão Mendes, Mohamed Lamine Seidi, Bia Gomes Produtor: Paulo de Souza Longa-metragem - 90 min.


XIME (1994)

A boa colheita que se anuncia neste ano de 1963 deixa optimista a tabanca de Xime. Porém, Lala, o viúvo, pai de Raúl e Bedan está preocupado. Raúl, o seu filho mais velho, estuda com os padres em Bissau e as autoridades coloniais andam à sua procura. O seu filho mais novo, Bedan, que ficou na tabanca, entrou na adolescência, fase em que os jovens pensam que podem fazer tudo. Quando a tia Samy sai do seu estado de prostração anuncia a Lala as piores catástrofes. Raul, o filho ausente regressa à tabanca. O pai recusa-se a reconhecê-lo. Bedan, embora sensível às ideias revolucionárias de Raúl, não está pronto para aceitá-las. Raúl é também rejeitado pelo padre que o instruiu. Durante as ausências de Raúl, a tabanca volta a estar calma. Bedan deve submeter-se aos ritos de iniciação reservados aos jovens para se tornarem adultos. Esta iniciação ensina-lhes a trocarem a violência da adolescência pela doçura e reflexão. É durante a iniciação que os militares irrompem perseguindo Raúl que acabam por matar. O filme acaba no momento em que Bedan, iniciado à não-violência, vê a situação do país contradizer esta tradição. Bedan, diante do irmão morto, renega os ensinamentos dos seus mestres e declara: “Desta vez é a guerra”


Realização: Sana Na N’Hada
Produção : Molenwiek Film BV (Amsterdam), Arco Iris (Bissau), Les Matins Films (France), Cap Vert (Sénégal).
Com a participação de : Ministério dos Negócios Estrangeiros (Direcção do Audiovisual Exterior e das Técnicas da Comunicação) e Ministério da Cultura e da Comunicação (Centro Nacional da Cinematografia) - FONDS SUD CINEMA (França).
Festival : Selecção oficial do Festival de Cannes 1994.

1994
Cenário : Sana Na N’Hada - Joop van Wijk
Duração : 95 mn
35 mm colorido
Imagem : Melle Van Essen
Som : Philippe Sénéchal
Música : Patricio Wong - Malam Mané
Montagem : Anita Fernandez
Intérpretes : José Tamba, Justino Neto, Aful Macka, Etelvina Gomes, Juan Tajes, Daniel Smith




NHA FALA (2002)

Em Cabo Verde tudo se faz em canções : casamentos e enterros, encontros e rupturas, eleições e inaugurações. Só a jovem Vita não tem o direito de cantar. Uma lenda ancestral da sua família prediz a morte àquela que tentar cantar. Antes de partir para França para continuar os estudos, ela reitera o seu juramento à mãe. Jamais uma melodia escapará da sa boca. Em Paris, Vita encontra um jovem músico, Pierre, e apaixona-se por ele. Levada pela alegria ela deixa escapar algumas notas. A sua voz é magnífica. Subjugado, Pierre convence-a a gravar um disco. Mas Vita está horrorizada por ter desafiado a maleficência. Ela decide de regressar ao país, de confessar o seu acto à mãe e de enfrentar o jugo da tradição... Realização : Flora Gomes Cenário : Flora Gomes et Franck Moisnard Director da fotografia : Edgar Moura Chefe Decoradora : Véronique Sacrez Engenheiro do som: Pierre Donadieu Montagem Som : Frédéric Demolder Montagem : Dominique Paris Música : Manu Dibango Produção : Fado Filmes, Les Films de Mai, Samsa Films




sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

A violência na Guiné Bissau


Guiné Bissau até os dias de hoje encontra-se em confrontos para assumir o poder do país. Está cada vez mais freqüente ter golpes ilegais de Estado por militares e grupos civis.
 
O politólogo Paulo Gorjão, que trabalha no Instituto Português de Relações Internacionais e Segurança (IPRIS), em Lisboa, disse que haveria tempos instáveis no país depois da tentativa de golpe em dezembro do ano passado. E que segundo ele "Enquanto não houver uma reforma do setor de segurança, não acredito que na Guiné-Bissau haja alguma solução duradoura, porque a fonte de poder na Guiné-Bissau não é o poder civil, são os militares. Sempre o foram, desde a independência [reconhecida em 1974]" .

A força do militares está cada vez maior devido o golpe de 12/04, o qual derrubou o  o primeiro-ministro Carlos Gomes Júnior que tinha entardo no poder após a morte de Malam Bacai Sanhá e tentado

Lendas e Provérbios

   A literatura sempre se fez presente na Guiné-Bissau apesar de ter seu desenvolvimento marcada por uma lentidão. A divulgação das obras literárias acontecia, na maioria das vezes, oralmente passada por gerações, o corpus literario era composto de lendas e provérbios. Seguem abaixo alguns exemplos:

Lenda de Ogum


Lenda: Ogum, Oxossi e Exu eram irmãos e filhos de Yemanjá. Ogum era calmo, tranqüilo, pacato e caçador, ele é que provia a casa de alimentos, pois Exu gostava de sair no mundo e Oxóssi era contemplativo e descansado. Num belo dia, Ogum voltando de uma caçada, vê sua casa cercada por guerreiros de outras terras. Vendo sua casa em chamas e seus parentes gritando por socorro, tomou-se de uma ira incontrolável e sozinho derrotou todos os agressores, não deixando um só vivo. Dai em diante, Ogum iniciou seu irmão Oxóssi na caça e disse a sua mãe.
- Mãe, preciso ir, tenho de lutar, tenho de vencer, tenho de conquistar. Mas se em qualquer momento, qualquer um de vocês, estiver em perigo, pense em mim, que voltarei de qualquer lugar para defendê-los.
Assim partiu e tornou-se o maior guerreiro do mundo, vencia a todos os exércitos sem mesmo ter um exército, tornou-se assim a verdadeira força da vitória.
Provérbios
Abo i rasa goiaba: bu ka ten kabaku (=você é como a goiaba, não tem cavaco)
Bianda, ora ki kusidu, i ka ten dunu (= comida na panela não tem dono)
Bibus na cora, ki-fadi mortus (se os vivos choram, que dizer dos mortos)

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Ke Ki Mininu na Tchora

José Carlos Schwarz é figura de destaque no ramo da música e da poesia na Guiné - Bissau. Suas músicas eram cantadas em crioulo e foram traduzidas para o português. Segue uma de suas canções e sua tradução: Ke Ki Mininu na Tchora - Do Que Chora a Criança

http://www.youtube.com/watch?v=36AX6Ra9_KU


DO QUE CHORA A CRIANÇA
(versão portuguesa)

Do que chora a criança?
É dor no seu corpo
Do que chora a criança?
É sangue que cansou de ver

Um pássaro grande chegou
Com ovos de fogo
0 pássaro grande veio
Com os ovos da morte

Caçadores desconhecidos
Enganados metralharam a tabanca
Caçadores, pretos como nós
Enganados metralharam a bolanha

Queimou-se o mato
Queimaram-se as casas
Perdurou a dor na nossa alma